Pode ser que nem você saiba ainda o que vai querer da sua vida daqui a cinco ou dez anos, mas a designer holandesa Lidewij Edelkoort tem uma boa ideia a respeito. Aos 61 anos, 20 deles dedicados a estudar comportamento de consumo em vários países, Li é conhecida como a maior autoridade em previsão de tendências do mundo. De seus escritórios em Nova York, Paris e Tóquio, ela antecipa para clientes como Nissan, Lacoste e Coca-Cola quais serão os nossos próximos desejos. Não só na estação seguinte, mas na próxima década. “As pessoas falam como se eu fosse uma mística, uma adivinha. No entanto, tudo o que faço é prestar atenção no mundo”, diz ela.
A última novidade da moda, do design e da arquitetura, as culturas tradicionais, as mudanças sociais, os movimentos políticos – nada escapa ao seu caderninho de anotações, no qual cola fotos, desenhos, pedaços de tecido e recortes de notícias de jornal. Quando estuda um hábito de consumo, mais do que saber onde se comprou ou quanto se gastou, Li persegue os desejos profundos que nos movem quando escolhemos uma colcha ou decidimos pintar uma parede de azul.
O resultado de suas análises é editado em catálogos exclusivos para seus clientes e na revista semestral Bloom – em que, ao contrário do que se possa imaginar, não se encontram projetos, paletas de cores nem tendências batizadas com algum nome criativo. Nada disso. São cadernos de inspiração, de convite à criação, à reflexão sobre nossos desejos profundos, instintivos, que normalmente acabam soterrados pela correria da vida. São conceitos abstratos e imagens etéreas que servem como excelente ponto de partida para a concepção de todo tipo de produção – inclusive dos seus projetos de construção e reformas.
Numa tarde nublada do outono parisiense, Li apresentou alguns desses conceitos, dessas vontades que ela batiza de “culturais”.
A última novidade da moda, do design e da arquitetura, as culturas tradicionais, as mudanças sociais, os movimentos políticos – nada escapa ao seu caderninho de anotações, no qual cola fotos, desenhos, pedaços de tecido e recortes de notícias de jornal. Quando estuda um hábito de consumo, mais do que saber onde se comprou ou quanto se gastou, Li persegue os desejos profundos que nos movem quando escolhemos uma colcha ou decidimos pintar uma parede de azul.
O resultado de suas análises é editado em catálogos exclusivos para seus clientes e na revista semestral Bloom – em que, ao contrário do que se possa imaginar, não se encontram projetos, paletas de cores nem tendências batizadas com algum nome criativo. Nada disso. São cadernos de inspiração, de convite à criação, à reflexão sobre nossos desejos profundos, instintivos, que normalmente acabam soterrados pela correria da vida. São conceitos abstratos e imagens etéreas que servem como excelente ponto de partida para a concepção de todo tipo de produção – inclusive dos seus projetos de construção e reformas.
Numa tarde nublada do outono parisiense, Li apresentou alguns desses conceitos, dessas vontades que ela batiza de “culturais”.
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A janela é um espaço privilegiado da casa. Ela emoldura a paisagem e funciona como uma ponte entre o que está dentro e o que está fora. Ela convida a sair e traz para a casa um pedaço do resto do mundo. Quando pensar em cortinas, não queira isolamento. Modelos pesados – como os de veludo vermelho do teatro – só são bem-vindos como um jeito inteligente de dividir ambientes, no interior da casa. Nas janelas, cortinas são cúmplices da luz, não seus algozes. Devem ser de fibra natural, para balançarem ao vento, como o vestido de uma criança correndo pelo corredor, depois de um banho fresco no meio de uma tarde de verão. A luz não é um detalhe: ela é a vida por completo. Deixe o sol da manhã acordá-lo, tocando de leve a sua pele. Sinta no seu corpo a alegria de estar vivo.
Há milênios, os japoneses cultivam uma estética baseada na aceitação da transcendência e do eternamente inacabado. Concebida como a beleza do imperfeito, do impermanente e do incompleto, a filosofia wabi-sabi se expressa no ritual do chá, nos arranjos de ikebana, no exercício interminável de manter um jardim feito de pedrinhas e areia, na qual você desenha e redesenha com a ajuda de um ancinho. Mais do que o resultado final, é o ritual que importa. Amar o inacabado é aceitar que viver não se trata de atingir um objetivo – que, no fundo, a gente nunca chega lá. O que importa é o caminho. Celebre o assimétrico, o instável. Ninguém precisa recuperar o jardim zen que teve um dia para entrar em contato com essa filosofia. O desafio é construir seu jardim zen interno, espiritual. Encontrar o seu ritual eternamente inacabado, que não tenha nenhum objetivo maior a não ser fazer você feliz.
Disponha um arsenal sobre a mesa: lápis, lã e agulha de tricô, uma xícara de farinha, um pedaço de tecido. Agora desafie suas mãos a escolher suas armas. Ao ataque: crie. Usar as habilidades das mãos dá sentido à vida. “Muitas vezes ouvi, e tenho certeza de que você também, pessoas dizerem “no dia em que eu tiver meu ateliê, vou pintar quadros”, ou então “vou fazer esculturas...”, diz Li. “Todos nós sabemos que não precisamos de nada disso. Simplesmente vá lá e faça.” Grandes criadores contemporâneos, como o arquiteto italiano Andrea Branzi, concebem móveis nos quais acoplam criações: gravuras, pinturas, esculturas que já vêm como parte de uma estante. Mas logo ao lado há um nicho, um espaço vazio, convidando a ser ocupado por você. Para que comprar, se você pode criar?
Do cheiro de pão no forno emana a promessa de um belo dia pela frente. Água, farinha, sal e fermento. Nenhum alimento é mais simples. Nada pode ser mais essencial. Toque o relevo da casca, saboreie o barulho que ela faz ao ser partida com as mãos. Experimente a textura do miolo que se desfaz lentamente enquanto uma fumaça suave e quase transparente convida: me saboreie. Ame o cotidiano com o mesmo amor incansável com que todas as manhãs celebramos a nossa paixão pelo pão. Cultive pela vida esta mesma instigante e insaciável fome.
Um quimono e um turbante árabe. Uma louça chinesa sobre uma tapeçaria mexicana. O cocar de um índio brasileiro enfeitando uma máscara africana. Artefatos de todos os povos, de todas as épocas, contam as mesmas histórias de valentia, de valores, de respeito. Conectar culturas é celebrar o que existe de comum em toda a humanidade. Antes de os europeus chegarem às Américas, povos indígenas de norte a sul do continente desenvolveram o ikat, uma técnica de tecelagem feita a partir de fios retorcidos. Nunca foi possível identificar onde a tradição começou. Estampas semelhantes e técnicas idênticas surgiram em diferentes pontos do continente americano ao mesmo tempo. “O ikat é a metáfora perfeita das conexões que existem entre as culturas”, ensina Li. “A força espiritual que conecta as diferentes tradições. Um jeito nômade de descobrir conexões e celebrar as ligações invisíveis dos povos.”
By: Lidewij Edelkoort
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